domingo, 3 de abril de 2011

TECENDO A MANHÃ

              Tecendo a  Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
(manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
                       (João Cabral de Melo Neto)

Um comentário:

Francisco Valdir disse...

Olá, Ana Márcia!!!!

Nas cidades grandes, principalmente, como aqui em Natal, capital do RN, fica difícil ouvir à partir da "meia-noite" a sinfonia do cantar dos galos, como retrata e muito bem, o poema!!!!

Eu vivi uma parte da minha existência em uma cidade do interior do estado do Rio Grande do Norte e, por isso afirmo e dou fé, que de fato, o galo éuma criatura que tece o amanhã!!!!

Um abraço!!!!!